ARTIGO | O dia de carona em um Stock Car

@petrobras Stock Car: uma experiência em movimento
Eu como foca sabia que o final de semana especial de estreia como jornalista seria debaixo de frio e muito corrido, mas nada que eu pudesse imaginar o que seria a gelada manhã de domingo em seus 9º de temperatura com ventos e sensação térmica de -1. O corre-corre de sábado na tentativa de tirar fotos, filmar e fazer textos foi bom para reaprender a não querer chupar cana e assobiar ao mesmo tempo quando aspectos técnicos limitam sua atuação. Também serviu, como conforto, poder me esquentar na medida do possível depois de ter subestimado o frio do Sul. Mesmo assim, eu sabia que quente mesmo seria a volta rápida no Autódromo Internacional de Curitiba a bordo de um Stock Car.

Muitas perguntas me vieram à mente naquelas horas que antecederam a experiência de pegar carona e sentir o que é estar dentro de um carro de corrida. Num mix de apreensão e nostalgia, me preocupava em como meus ouvidos reagiriam à fadiga sonora e newtoniana da força centrífuga e da aceleração daquele monstro. Será que a labirintite adquirida já na vida adulta me faria passar um papelão ou até mesmo um acidente no meio da coisa toda? Será que perdi a identificação física e sensorial com o automobilismo e a velocidade da época que corri de kart 125cc no kartódromo Waltinho Ferrari, em Brasília? Será que vou ficar com medo? Vou chorar de emoção? Vou rir de satisfação? Tentei baixar o espírito jornalista que eu jamais pude tentar exercer e me ater à guardar o máximo de detalhes para poder descrever o que senti pois não seria possível filmar a bordo por questão de segurança.

Já de credencial específica para o volta rápida, correria para tudo minuciosamente cronometrado no melhor estilo do automobilismo. Aliás, o que seria dele sem a corrida contra o cronômetro? A única frustração durante aquele breve momento foi comigo mesmo. O macacão GG que deveria vestir não passou da cintura. A barriga não, a academia e a dieta mandam lembranças, foi o que veio em mente. Balaclava a postos, fui chamado para correr em direção à pista e à vaga vazia do carro que estava para chegar. Coloco o apertado capacete que não permite recolocar os óculos, os ignoro e deixo com a equipe de  apoio. Eis que vejo um colega recém chegado do passeio com uma câmera na mão e sem perder tempo pergunto se posso e peço para a equipe de apoio pegar minha câmera. A tensão e a curiosidade em saber e viver de forma sensorial à tudo o que aquele par de minutos dentro do cockpit proporcionariam eram tamanhas que mal tive tempo de me emocionar como talvez devesse.


Chega o carro. Abrem a porta e me encaminho para ele, me agacho de costas na abertura e caio exatamente na posição de encaixe com o banco do passageiro. Enquanto me afivelam o cinto de cinco pontas o piloto José Córdova me recepciona. Fecham a porta e dão dois tapinhas no teto liberando o carro como se dissessem “é hoje”. Começo a gravar, trocamos joinha e vamos devagarinho para a linha de largada. Após esperar alguns segundos pelo distanciamento de outro stock de demonstração, somos liberados.

É inevitável a partir deste momento e deste trecho do texto não traçar paralelos numa tentativa vã de precisar o que realmente aconteceu. É talvez a única forma de chegar perto de materializar para o leitor o que é experimentar todas as sensações que uma máquina tão peculiar e complexa como um carro de corrida como este transmite quando está em seu devido habitat.

O torque e a aceleração brutais do motor V8 de 460cv nas 4 marchas que se esticaram até a igualmente violenta freada da primeira curva talvez sejam as únicas emoções possíveis de se aproximar, apenas, por meio de carros modificados ou com os esportivos disponíveis aos endinheirados como Porsches, Ferraris e Lamborghinis. Enquanto o acelerador vai até o assoalho, o pescoço não consegue mexer a cabeça para frente, assim como também é uma luta tentar ficar com o corpo no lugar quando o pedal do freio pede a vez.

O início do contorno do "S" de baixa lembrou imediatamente os simuladores tão badalados pelos aficionados do automobilismo virtual, com a diferença gritante da sensação dos pneus se esfregando contra as diferentes texturas de asfalto e zebra, além da reação imediata e precisa da direção de carro e piloto junto ao balanço ligeiro e rígido da suspensão. Porém, as diferenças são gritantes quando se trata da comparação única dos cinco sentidos envolvidos durante a volta rápida. Nada virtual se aproxima do dito "real".

Na saída da sequência de curvas, nova aceleração sob a batuta da música veoitiana até a freada seguinte. Aliás, no dia seguinte, na saída da quadra (ou rua, para entendimento geral) vazia aqui de Brasília, fiz um brake-test para tentar entender melhor a diferença. Mesmo com o máximo de freada não reproduzi nem um terço da força que senti no stock (não façam isso em casa, crianças).

As curvas, especialmente o "S" de alta no último terço de circuito, revelaram o quanto um carro desses é estável e como havia gordura (além da minha, é claro) a ser queimada para se atingir o limite de desempenho de um carro de competição, lembrando que naquela configuração, era um carro de demonstração e certamente ficaria na última colocação, isso se conseguisse ficar próximo de um limite de 107% do desempenho dos rivais.

A curva da vitória finalizou a volta com o som de um carro que parecia chorar nos silvos agudos de seu diferencial em meio ao berro gutural predominante do motor V8 como se dissesse “pelo amor de Deus, tirem esse bando de gente da frente que eu tenho uma reta inteira para eu rasgar!”

O carro foi parando devagar. Cumprimentei Córdova, interrompi a gravação e me preparei para sair do carro, o que fiz com muito sofrimento pois coloquei as pernas para fora ao invés dos braços e cabeça.

De volta a correria só tive tempo de tirar o macacão para o próximo convidado poder se preparar para o seu momento especial e pude ver apenas alguns colegas, tão apaixonados por automobilismo ou mais do que eu, visivelmente emocionados.

Agradeci pela oportunidade e tentei focar a cabeça, que ainda vibrava com o som e a trepidação do carro, na tomada de fotos que deveria fazer na visitação aos boxes. Mesmo depois da corrida, concedendo entrevista, não tinha a menor condição de precisar com palavras o que havia vivenciado. Ainda não consegui, mesmo nesse texto, por mais cuidadoso e atento que eu tenha sido. E percebo, hoje, que o que mais se aproximou disso foi a própria gravação da carona. Sem pedestais ou presilhas, com uma câmera na mão, mesmo, acabei capitando em imagens tudo o que não pude transcrever e que as gravações profissionais não são capazes de transmitir no cercado da perfeição a que são impostas.

Conversando no final dos trabalhos com os colegas, o Marcelo, do Tomada de Tempo, chamou atenção para o belo slogan do evento: @petrobras Stock Car: uma experiência em movimento. Comentei que o brainstorm por trás disso deve ter sido muito interessante e foi certeiro. Vai ver andaram dando algumas voltinhas de Stock por aí...



*o jornalista viajou a convite da @petrobras

STOCK CAR | Curitiba 2017: Resultado da Corrida do Milhão

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About Rodrigo Magalhães

2 comentários:

  1. FANTÁSTICO TIAGO! Belo texto, reflete exatamente o que sentimos e experimentamos! Valeu!

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  2. Obrigado, Marcelo! Somos todos amantes do esporte a motor e experiências assim sempre nos proporcionam momentos inesquecíveis. Abraço

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